Desinformação e fake news levaram uma parcela significativa de brasileiros a desconfiar da eficácia e da segurança dos imunizantes
A chegada da vacina contra a Covid-19 não trouxe apenas esperança e alívio aos brasileiros. Junto com o crescimento no número de casos e óbitos, a falta de leitos e até de oxigênio nos hospitais estão questões políticas envolvendo a compra de vacinas, atraso na imunização, denúncias de fura-fila no recebimento das doses e muita desconfiança sobre a eficácia e a segurança dos imunizantes.
Mas, afinal, por que tanta gente tem medo de tomar a vacina? O biomédico Thiago Yuiti Castilho Massuda, especialista em imunologia e professor do UNICURITIBA, diz que a politização nas negociações somada à desinformação e ao grande número de fake news contribuíram para o temor das pessoas em relação à vacina.
“A vacina é totalmente confiável, segura, foi validada através de estudos sérios, desenvolvidos por instituições de prestígio e autorizadas pelos órgãos competentes”, explica.
Atualmente, mais de 40 milhões de pessoas já foram vacinadas no mundo, com raras reações consideradas graves, o que, segundo o professor, demonstra a segurança do imunizante. Em alguns casos, a vacina pode ocasionar efeitos leves como dor no local da aplicação – o mesmo efeito de outros tipos de vacinas já amplamente utilizadas no Brasil.
O fato de ter sido desenvolvida tão rapidamente, continua o especialista, está diretamente ligado à evolução da ciência nos últimos anos, aos muitos estudos já em desenvolvimento para outras vacinas e que foram aplicados para os imunizantes contra o Coronavírus.
“Essa vacina não foi produzida do zero, o que acelerou os resultados. Além disso, a ciência está mais veloz. Para sequenciar o genoma humano pela primeira vez levamos uma década, hoje se faz isso em poucos dias”, exemplifica.
Thiago Massuda lembra ainda que o mundo todo se empenhou na pesquisa e na troca de informações para o desenvolvimento de um imunizante para conter a pandemia. “Todos esses fatores foram determinantes para agilizar o processo.”
Interferência política
Na avaliação do pesquisador, a politização envolvendo a compra das vacinas é “algo muito triste e lamentável”. “Enquanto pesquisadores e profissionais da saúde estão preocupados em levar o melhor para a população, sempre pautados em conhecimento científico, alguns políticos parecem mais preocupados em tirar proveito eleitoral da situação”, condena o biomédico.
Thiago diz que a demora nas negociações fez com que o aumento na demanda mundial tornasse as vacinas escassas, dificultando o acesso do Brasil às doses. “Se o governo tivesse sido mais eficiente, teríamos a possibilidade de imunizar boa parte da população ainda em 2021, mas a omissão brasileira tornou impossível estimar o ritmo que a campanha de vacinação terá por aqui.”
Apoio da população
Para que a imunização tenha maior eficácia, o professor do UNICURITIBA diz que é fundamental contar com a adesão e a conscientização da população sobre a importância da vacina. “O início da vacinação não significa o fim da pandemia. Estamos vivendo um dos piores momentos no Brasil e serão meses até que os resultados da vacina apareçam, por isso, temos que manter e reforçar os cuidados. A boa notícia é que agora temos uma esperança.”
Embora faltem estudos de longo prazo sobre a vacina, a estimativa é que seja possível controlar a disseminação do vírus assim que 60% a 70% da população estejam imunizadas. As chances de reinfecção após receber as duas doses também são uma incógnita.
“Todos os voluntários que participaram dos testes serão acompanhados por anos e só então teremos a resposta sobre o tempo de proteção e se haverá necessidade de reforço anual, a cada dez anos ou se a vacina protegerá para sempre”, explica o especialista.
Variante brasileira
A mutação dos vírus é algo muito comum e uma delas, a chamada “variante brasileira”, tem como característica o maior poder de transmissão.
De acordo com o especialista em imunologia, estudos preliminares feitos com outras variantes do Coronavírus mostram que as vacinas continuam produzindo efeito protetor. “Acredito que o comportamento seja exatamente o mesmo com essa variante encontrada aqui e que as vacinas se mantenham eficazes”, avalia.
Sobre “boatos” que circulam no país a respeito dos efeitos negativos que a vacina poderia causar, como infertilidade nas mulheres ou alterações no DNA humano, o biomédico é enfático: “Não há nenhum fundamento científico nisso e esse tipo de fake news não ajuda em nada no combate à pandemia.”
A nova tecnologia empregada na produção das vacinas – como os imunizantes da Pfizer e Moderna, explica o professor – usa o RNA do vírus na produção de proteínas do Sars-Cov-2. Essas proteínas estimulam o sistema imunológico a produzirem anticorpos. “É uma técnica amplamente estudada, muito promissora e que poderá ser usada amplamente no futuro.”
Vacinas autorizadas no Brasil
Duas vacinas estão autorizadas pela Anvisa no Brasil: a Coronavac, desenvolvida pela Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e a vacina da Pfizer/BioNtech em parceria com a Fiocruz. O Paraná recebeu o primeiro lote da Coronavac e começou a imunização dos profissionais da saúde no dia 18 de janeiro. Após um intervalo de 14 a 28 dias, esse grupo receberá a segunda dose.
“Como ainda não sabemos se a pessoa imunizada pode se infectar e transmitir a doença, embora ela não vá desenvolver as formas graves e nem ir a óbito, que é o que queremos nesse momento, é importante que as medidas de distanciamento, uso de máscara e higiene das mãos seja mantida até que consigamos controlar a disseminação do vírus”.
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