O grupo paramilitar russo Wagner deu início, nesta quinta-feira, 25, ao processo de transferência de suas posições na cidade ucraniana de Bakhmut para o exército russo. Essa região tem sido o epicentro do conflito há vários meses, prestes a entrar em seu segundo ano. Yevgueni Prigozhin, fundador do grupo Wagner, declarou em um vídeo divulgado por sua assessoria de comunicação: “Hoje estamos retirando as unidades de Bakhmut. Até 1º de junho, a maior parte delas será transferida para as bases da retaguarda. Estamos entregando as posições aos militares, com a munição e todo o conteúdo. Faremos a retirada, descansaremos, nos prepararemos e aguardaremos novas instruções.”
O grupo Wagner alega ter conquistado a região, o que é negado pela Ucrânia. No entanto, em uma entrevista com o blogueiro militar russo Konstantin Dolgov, membros do grupo afirmaram que a tentativa de Moscou de desestabilizar Kiev tornou as forças inimigas uma das mais poderosas do mundo. Descreveram o exército ucraniano como possuindo um alto nível de habilidades organizacionais, treinamento e inteligência, além de ser capaz de trabalhar facilmente e com sucesso com sistemas de armas diversos, incluindo soviéticos e da OTAN.
A transferência ocorre em um momento em que o exército russo enfrenta dificuldades nos flancos de Bakhmut. Segundo Kiev, as tropas de Moscou perderam 20 quilômetros quadrados ao norte e sul da cidade para as forças ucranianas. O fundador do grupo Wagner afirma que quase 10 mil dos 50 mil recrutados nas penitenciárias russas morreram na Ucrânia, assim como um número similar de combatentes profissionais do grupo. Ele destacou que selecionou 50 mil detentos, dos quais 20% faleceram, mas ressaltou que o número de baixas do seu grupo foi três vezes menor do que o das forças ucranianas. Também mencionou que o número de feridos em seu grupo é o dobro.
Essa transferência ocorre após uma incursão de combatentes ucranianos na região fronteiriça de Belgorod, na Rússia, na segunda e terça-feira. Moscou levou mais de 24 horas para contra-atacar, evidenciando as dificuldades enfrentadas pelas forças russas. Ganna Maliar, vice-ministra ucraniana da Defesa, confirmou que as tropas do grupo Wagner cederam suas posições às tropas oficiais russas na periferia de Bakhmut. Ela afirmou que as unidades do grupo Wagner ainda permanecem na cidade de Bakhmut, enquanto as forças ucranianas controlam uma área do subúrbio ao sudoeste. A cidade industrial, que antes do conflito tinha 70 mil habitantes, tem sido cenário da batalha mais violenta e prolongada da ofensiva russa. A Ucrânia planeja avançar nas margens de Bakhmut para estabelecer um cerco tático à cidade.
Além disso, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou a Rússia de continuar “aterrorizando” o país e afirmou que o exército ucraniano derrubou 36 drones russos durante ataques noturnos, visando infraestruturas vitais e áreas militares no sul do país. As autoridades pró-Moscou na Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, alegaram ter derrubado seis drones ucranianos durante a noite. No campo diplomático, a Rússia anunciou que o emissário chinês Li Hui, enviado por Pequim para discutir uma solução política para o conflito na Ucrânia, visitará Moscou na sexta-feira para “consultas”.