A demissão de Joaquim Silva e Luna do comando da Petrobras não deve alterar a política de preços da estatal, justamente um dos principais motivos para o desgaste do general da reserva e alvo constante de críticas do presidente Jair Bolsonaro (PL). Desde 2016, a estatal aplica os fundamentos do preço de paridade de importação (PPI), que usa a cotação do barril do tipo Brent e o patamar do dólar para reajustes — para cima ou para baixo — no valor dos combustíveis comercializados para as refinarias. A recente disparada do barril, que chegou a tocar a casa dos US$ 140, levou ao mega-aumento promovido no dia 10 de março e encareceu os preços da gasolina e do diesel de forma generalizada. O governo federal indicou o economista Adriano Pires, sócio-fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), e bem avaliado no mercado pela defesa da independência da estatal e a manutenção do modelo de preços.
A substituição do comando da estatal por um nome que defende os mesmos preceitos da atual gestão indica que o movimento se deu mais por razões políticas do que econômicas, diz o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito. O general da reserva assumiu a presidência em abril do ano passado no lugar de Roberto Castello Branco, demitido em fevereiro também em meio uma crise aberta com o governo federal por reajustes nos combustíveis. “A troca no comando da Petrobras é mais um ato simbólico que qualquer outra coisa, em pleno ano eleitoral o presidente Bolsonaro pretende dar uma resposta à sociedade, mas nem Luna e muito provavelmente nem Pires irão mudar a política de preços da empresa”, afirma o especialista. Sob o pouco menos de um ano de gestão de Silva e Luna, a estatal elevou o preço do litro da gasolina nas refinarias de R$ 2,64 para R$ 3,86 — reajuste de 46%. Já o litro do diesel passou de R$ 2,77 para R$ 4,51 — encarecimento de 63%. “Qualquer iniciativa em reduzir o impacto aos consumidores de maneira mais generalizada teria que vir do Ministério da Economia na forma de subsídios, mas este não parece ser um plano desejado pelo ministro e equipe.”
Pires também defende a criação de um fundo de estabilidade, ao menos por tempo limitado, para amortizar os efeitos das variações do mercado internacional no preço doméstico. “Você faria uma coisa parecida na época dos R$ 600 da pandemia, seria uma medida provisória, pedindo um crédito extraordinário. E nesse prazo de três a seis meses, a gente veria a guerra terminar ou ser apaziguada. E, com um novo preço de barril de petróleo, a gente começaria a discutir realmente a ideia do fundo”, defendeu em entrevista à Jovem Pan News no dia 10 de março. A medida foi aprovada pelo Senado no dia 11 deste mês em meio ao pacote de ações para barrar o encarecimento dos combustíveis, mas ainda precisa ser chancelado pela Câmara dos Deputados. O mecanismo, que seria gerido pelo governo federal, não conta com o apoio do ministro Paulo Guedes. “Mais de 80% dos fundos de estabilização de preços criados em outros países deram errados, e os que estão vivos até hoje custam muito para a população”, afirmou ele no início de fevereiro.
fonte: Jovem Pan