Risco Fiscal e Fim do Auxílio Emergencial são entraves para 2021

Por Tânia Gofredo, Economista da Costdrivers

Apesar das fortes reações políticas à eleição de Joe Biden como novo presidente dos Estados Unidos, e o esperado impacto econômico global nos primeiros 100 dias do novo governo, projeções preliminares apontam que o dólar deve se manter estável no primeiro semestre de 2021 – oscilando na casa dos R$ 5,40 – um pouco acima da projeção divulgada pelo último relatório Focus, que prevê o dólar em 2021 na casa dos R$ 5,20.

E, mesmo que as relações entre o novo presidente e Jair Bolsonaro não sejam as melhores, o desempenho da economia brasileira neste terceiro trimestre aponta um viés de crescimento para o próximo ano. Mais: é um forte indicativo de que as opiniões e posições de Bolsonaro e eventuais rusgas entre ele e o novo presidente não devem interferir de maneira drástica na posição mais positiva do mercado.

E isso se reflete não só no dólar, como também nas projeções de crescimento do PIB – que variam entre 3,31 (Focus), até 4,5% — a partir das apostas dos bancos privados.

E, no campo da política interna, embora o atual presidente não tenha garantido aos seus candidatos a eleição, no geral o poder se distribuiu em partidos de centro / direita – indicando um caminho com menos turbulências internas e um país um pouco menos polarizado politicamente.

Além disso, o estímulo ao crédito e os juros básicos a 2% — com a possibilidade de permanência dessa taxa por um período prolongado, dão mais cor a essa possível retomada do crescimento em 2021. Um bom exemplo disso é o setor imobiliário: o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) teve um aumento das concessões de crédito em 44% nos últimos 12 meses.

Outra boa notícia, ainda deste terceiro trimestre, foi a alta de 11,1% no consumo aparente de máquinas e equipamentos, com destaque à produção nacional, beneficiada pela desvalorização do real.

Política fiscal, vacina e auxílio emergencial: as pedras do caminho

É claro que as notícias positivas e uma perspectiva menos sombria aliviam a tensão provocada por um amanhã pós-pandêmico ainda com tantas incertezas, porém o governo brasileiro ainda tem à sua frente três desafios para garantir que esses números saiam do papel em 2021.

O primeiro impacto diz respeito ao auxílio emergencial, que deverá conter o impulso de consumo. Segundo estimativas, a diminuição do valor de R$ 600 para R$ 300 vai tirar de circulação o equivalente a R$ 24 bilhões de reais. Segue-se o fato de que o governo ainda não confirmou se vai ou não prorrogar o auxílio emergencial para o primeiro tri do próximo ano.

Soma-se a isso a possível vacina para o COVID. O anúncio de uma potencial vacina com alta eficácia traz também novos desafios logísticos. Com dimensões continentais, autoridades públicas terão que achar o caminho para vacinar a população fora dos grandes centros.

Por último, e não menos importante, está o risco fiscal. Embora o governo acene diligentemente para o cumprimento da agenda fiscal, a agência de classificação de risco Fitch Ratings reafirmou a nota de crédito soberano BB- para o país, com perspectiva negativa. A dívida pública e as incertezas políticas marcam, para agência, a dificuldade de cumprir a agenda fiscal. Além disso, é possível que o Orçamento 2021 seja votado apenas em abril do ano que vem – empurrando investidores para um limbo nada atrativo, e o governo para um aperto de cintos compulsório.

Mesmo diante dos sinais positivos, o Brasil ainda está abaixo do rating de investimento – na categoria de maior risco de investimento. Resta saber, agora, se o governo vai fazer a sua parte e tornar esse sopro otimista em uma retomada consistente em 2021.

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