Apesar dos diversos meios de denúncia por instituições públicas, tais como Conselho Tutelar, Disque 100 (Disque Direitos Humanos), os casos de assédio e violência sexual contra crianças e adolescentes continuam crescentes nos consultórios de psicoterapia.
O motivo dessa matéria é trazer à reflexão aquilo que vivencio há alguns anos nos atendimentos com adultos e adolescentes.
Existe uma dicotomia entre a percepção da família e o que realmente acontece com as vítimas desses abusos. Há diversos indicadores que nos ajudam a perceber quando um adolescente ou uma criança se encontram nesta situação, tais como: mudanças abruptas de comportamento, introversão da personalidade; agressividade; apresentação de medos (tais como ficar no escuro, sensação de solidão ou medo de estar perto de determinadas pessoas); voltar a urinar na cama; voltar a sugar o dedo; isolamento diante dos grupos sociais; possível automutilação e até tentativa de suicídio.
É importante salientar que o abuso sexual geralmente ocorre praticado por pessoas próximas (familiares, amigos, vizinhos) e, muitas vezes, com pessoas que a criança tem algum tipo de afetividade, o que dificulta ainda mais a constatação do abuso.
Muitas vezes, a criança e o adolescente têm medo de contar aos pais, pois temem que eles não acreditem nela. E, infelizmente, isso realmente acontece!
O abuso sexual, por vezes, inicia-se com um carinho, de modo que a criança torna-se indefesa diante do ataque do abusador. O abusador manipula emocionalmente a vítima que nem sequer percebe o abuso naquela etapa da vida, levando-a ao silêncio por sensação de culpa.
Nestas condições o abusador também realiza ameaças de praticar algum mal aos pais, ou pessoas próximas da criança e adolescente caso o abuso seja revelado por ela.
Temos que observar que o abusador geralmente envolve a criança para ganhar confiança e fazer com que ela não conte aumentando a sua culpa.
Na psicoterapia essa culpa é trabalhada e o adolescente começa a compreender que ele é a vítima dessa situação.
Frequentemente a criança e o adolescente deveriam sentir a sensação de proteção dentro de suas casas, mas, por ser um espaço privado, o segredo familiar torna-se comum, infelizmente.
O estímulo sexual provocado pelo abuso também pode causar à vítima infantil o desenvolvimento da sexualidade precoce.
É importante lembrar que, muitas vezes, o abusador também pode ter sofrido abuso sexual na infância. Desta forma, é muito importante o fechamento deste círculo vicioso.
Percebo nos meus atendimentos os seguintes sintomas aparentes nos adolescentes (vítimas) de abuso sexual: distúrbio da própria imagem; disfunção alimentar; depressão e baixa autoestima.
Relatos de adultos que sofreram abuso sexual na infância revelam que houve negação e rejeição por parte da mãe, quando o pedido de socorro pela criança. Em geral, as mães culpam a própria criança pelos ocorridos ou alegam que estão mentindo.
Familiares, professores, tutores e qualquer pessoa que possa observar a mudança de comportamento da criança ou do adolescente, devem reportar a situação aos órgãos competentes.
Insta acentuar que a mudança de comportamento da criança ou do adolescente pode ser ocasionada por motivos não atrelados ao abuso sexual.
É imprescindível o acompanhamento psicológico profissional. diz Ana Elisa Morelli
São José do Rio Preto, 31 de janeiro de 2022.
Psicóloga e Psicodramatista
CRP 06/61653